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Após o brutal atentado. Estados Unidos e OTAN preparam represálias imperialistas
FT : Liga de Trabajadores por el Socialismo-Contra Corriente (LTS-CC), México,Estratégia Revolucionaria (ER-QI), Brasil,Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), Bolivia,Grupo Clase Contra Clase (CCC), Chile,Partido de Trabajadores por el Socialismo (PTS), Argentina
14/09/2001

Diante do impacto dos fatos, de transcendência mundial, desatados com o atentado contra as "Torres Gêmeas" e o Pentágono, em 11 de setembro, apresentamos esta primeira declaração política da Fração Trotskista Estratégia Internacional - FT-EI


1. O atentado de dimensões terroríficas, da terça-feira 11, nos EUA, causou uma enorme comoção de alcance mundial. A magnitude desta ação se traduziu na destruição reinante no coração financeiro de Manhattan, nas imagens dos enormes "Boeings" explodindo e causando a queda das "torres gêmeas" (símbolo da "globalização" e do poder financeiro), no Pentágono com uma de suas alas em chamas.

Mesmo que tenha desnudado a vulnerabilidade da grande potência dominante, ações terroristas como esta, na qual se mata indiscriminadamente milhares ou dezenas de milhares de trabalhadores, têm um conteúdo reacionário. Porque não fazem avançar um passo sequer a luta dos explorados e oprimidos contra o imperialismo e têm repercussões negativas para as massas, dentro dos Estados Unidos e em nível internacional. Bush e o imperialismo tentarão utilizar o atentado para justificar uma ofensiva contra as massas do mundo semicolonial e a própria classe operária e os jovens dos países centrais, buscando restabelecer poder imperial.


2. As cadeias imperialistas, como a CNN, e a imprensa mundial afirmam que o ataque foi realizado por setores do "integrismo islâmico" e muitos responsabilizam Bin Laden e seu grupo (com bases no Afeganistão). Até o momento, ninguém reivindicou a autoria do atentado e não podemos saber quem a quem corresponde. De toda maneira, quaisquer que sejam os autores, a selvagem política imperialista é a causa principal do massacre das Torres Gêmeas, e o papel de "polícia internacional" que os EUA arvora para si nos últimos anos, para afirmar seu domínio mundial, bombardeando e submetendo ao desastre países como Iraque e Sérvia, tem gerado o ódio de milhões em todo o mundo, nos países semicoloniais empobrecidos, endividados e humilhados pelo imperialismo e, em particular, entre as massas palestinas e do mundo islâmico.

Se o satanizado Bin Laden foi o autor, devemos relembrar que ele foi armado, junto com a guerrilha afegã, pela CIA e os Estados Unidos contra a invasão da URSS ao Afeganistão, e era considerado pelo governo de Reagan como um "combatente da liberdade". Não é de menos dizer que o atentado, ou a cumplicidade com ele, é a expressão dos elementos de decomposição no interior do imperialismo, como foi o atentado de Oklahoma, obra de um ex-combatente condecorado do Vietnã, com relações não comprovadas com as milícias fascistas norte-americanas.

3. Como marxistas revolucionários, reafirmamos nossa posição principista que tem como objetivo desenvolver a mobilização permanente dos trabalhadores e a unidade do proletariado internacional e dos povos oprimidos do mundo para acabar com o sistema capitalista e imperialista, responsável pelos mais sanguinários atos de barbárie e terror que a humanidade conheceu. Desta perspectiva, nos opomos terminantemente ao método do terrorismo individual ou de pequenos grupos à margem das massas porque não eleva a mobilização, organização e o moral dos explorados e é impotente para destruir os alicerces da exploração de classes, a perseguição racial ou a repressão nacional que o sistema imperialista impõe. Como já afirmava Leon Trotsky - líder da insurreição de Outubro e construtor do Exército Vermelho -, no princípio do século XX, fazendo um balanço da política dos terroristas populistas russos: "a fumaça da explosão se dissipa, o pânico desaparece, o sucessor do ministro assassinado toma seu lugar, a vida novamente entra em sua velha rota, a roda da exploração capitalista gira como antes; somente a repressão policial se torna mais selvagem e brutal". Neste caso, pode-se constatar que qualquer membro da elite financeira pode ser substituído e os edifícios reconstruídos, os símbolos do poder foram avariados, porém o poder imperial continua firme e prepara sanguinárias represálias.

4. As conseqüências reacionárias do atentado indiscriminado do dia 11 já se fazem sentir claramente. Em primeiro lugar, como internacionalistas nos solidarizamos com a dor dos familiares dos milhares de vítimas inocentes, que eram simples trabalhadores, entre eles muitos latinos e negros e imigrantes de todo o mundo semicolonial. Todavia, estamos no lado oposto da hipocrisia dos governantes imperialistas e da imprensa que se uniram para combater "o diabólico terrorismo" que não tem "nenhum respeito pela sagrada vida humana". Fazemos nossas as palavras de Trotsky: "não temos nada em comum com aqueles que posam de moralistas, que em resposta a qualquer ato terrorista fazem declarações solenes sobre o valor absoluto da vida humana. Esses são os mesmos que, em outras ocasiões, em nome de outros valores absolutos, por exemplo a honra da nação ou o prestígio do monarca, estão dispostos a lançar milhões de pessoas no inferno da guerra". Por isso, denunciamos a utilização do pesar diante da morte de inocentes que fazem Bush, os democratas e os republicanos ianques e a OTAN para justificar represálias militares contra o Afeganistão e eventualmente outros países do Oriente Médio. O imperialismo, genocida de povos e o maior terrorista da história (como vimos em Hiroshima, Vietnã, Iraque e a recente guerra contra Iugoslávia), prepara uma política de maior repressão contra as lutas das massas árabes em geral, e em particular contra os palestinos! O estado racista de Israel já lança seus tanques e tropas sobre as cidades de Jenin e Jericó, no território da Cisjordânia, como parte de sua escalada contra o povo palestino.

Dentro dos Estados Unidos, o atentado gerou um clima ultra-reacionário e de racismo anti-árabe e antiislâmico, alimentando uma política de ataque às liberdades democráticas e aumento dos gastos militares, criando condições desfavoráveis para os trabalhadores norte-americanos que devem enfrentar as demissões em massa dos grandes monopólios, como produto da recessão econômica.

A comoção na opinião pública dos países centrais tem alinhado momentaneamente a maioria da população aos seus governos imperialistas, sendo um fator de desorientação da juventude anticapitalista que vinha denunciando os pilares do poder do grande capital em enormes mobilizações de Seattle a Gênova, enfraquecendo no imediato a possibilidade de avançar numa aliança entre a juventude e os povos oprimidos.

5. O atentado liquidou com a certeza da invulnerabilidade dos Estados Unidos e humilhou seu aparato de defesa e segurança de alta tecnologia. Isso evidencia que, como prognosticamos os marxistas revolucionários, após a implosão da URSS não surgiu uma "nova ordem mundial" duradoura e sim que os Estados Unidos ficou muito mais exposto para lidar quase sozinho com os agudos conflitos que permeiam o mundo e que, com o atentado, entrarão brutalmente em seu interior.

A potência dominante não havia sofrido ataques diretos em seu território. O atentado abalou as bases da "segurança" interna norte-americana, que se baseava num esmagador poder militar e econômico e nas características de seu território com dimensões continentais e protegido por dois oceanos.

O governo de Bush, que iniciou seu mandato deslegitimado pelo escândalo eleitoral, enfrenta o desafio de restabelecer a imagem do poderio imperial humilhado. Isso o coloca diante de um complexo dilema: precisa dar uma resposta rápida e contundente para não aparecer como indeciso e débil, mas não consegue facilmente eleger o alvo das represálias. Tudo isso em meio ao agravamento das tendências recessivas da economia internacional, aceleradas pela comoção atual.

6. Nesse momento, o governo de Bush, na tentativa de sair dessa complicada situação, embaralha três opções de resposta militar, contando em princípio com a cumplicidade de seus sócios da OTAN: a) uma "intervenção cirúrgica" contra as bases dos supostos autores do atentado, como foram os bombardeios de Clinton em 1998 contra o Afeganistão e o Sudão, após os atentados às embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia. Esta resposta seria rápida e de pouco risco, porém dificilmente seja efetiva; b) uma campanha de bombardeios massivos, aéreos e com mísseis, incluindo a possível mobilização de tropas terrestres, contra o Afeganistão (ou algum outro estado), acusado de proteger os terroristas. Esta variante traz enormes dificuldades logísticas e riscos políticos e militares, pois poderia terminar implicando o imperialismo num conflito bélico de longa duração e resultados duvidosos; c) a terceira variante, à qual parece inclinar-se Bush, seria uma "guerra não convencional" contra o terrorismo islâmico, semelhante à estratégia que os EUA impulsiona na América Latina em nome da "luta contra o narcotráfico". Esta variante evitaria a necessidade de identificar um país específico como alvo, e permitiria a Washington ampliar seus objetivos a tudo o que considere uma ameaça à "segurança nacional", ao mesmo tempo em que perfilaria uma ampla coalizão de países em nome do "combate comum contra o terrorismo". Esta não seria uma guerra rápida nem teria um objetivo definido, ainda que implicasse variadas formas de intervenção e represálias contra o Afeganistão e outros países, e poderia se estender pelo grande arco de países islâmicos e até poderia justificar uma maior ingerência em outras regiões, como Colômbia e demais países da América Latina.

A resolução da OTAN em sua sessão extraordinária de 12/09, dando, aparentemente, "carta branca" a Bush na "luta antiterrorista" avaliaria esta variante e tem levado muitos analistas a falar de uma nova coalisão como a que dirigiu Bush pai em 1991 contra o Iraque, com o objetivo de avançar seus próprios interesses.

7. Ainda que o atentado tenha criado uma unidade imediata dos estados imperialistas, seguida de declarações de apoio da Rússia e até da China e muitos governos do mundo semicolonial, é pouco provável que essa unidade pontual se amplie a outros campos ou se mantenha de forma duradoura, reeditando as conseqüências do triunfo imperialista sobre o Iraque em 1991, que permitiram uma década de fortalecimento da hegemonia norte-americana. A provável entrada da economia internacional numa recessão que afeta de maneira simultânea as principais potências imperialistas, tensiona as relações interimperialistas. As ácidas discussões prévias à próxima reunião da OMC em Qatar mostram que as diferenças que já levaram ao fracasso a reunião de Seattle no final de 2000 não deixam de se desenvolver. O projeto norte-americano de "escudo antimísseis" (discussão que, diga-se de passagem, mostrou a desorientação da liderança americana sobre os verdadeiros perigos imediatos) tem exacerbado as disputas estratégicas com a Rússia, e em particular com a China - nação com a qual os Estados Unidos vem tendo fortes atritos, como vimos no "incidente do avião espião".

No mundo semicolonial, as seqüelas de uma década de políticas neoliberais, com o massivo endividamento e empobrecimento, estão levando a um distanciamento das políticas norte-americanas. No Oriente Médio, em particular, principal foco de desestabilização na atual situação internacional, a política norte-americana, francamente pró-israelense, tem levado os governos árabes, que temem ser arrastados por uma desestabilização maior da região, a uma crescente reticência quanto a continuar seguindo os desígnios de Washington. Junto com isso, a política imperialista choca-se com uma importante resistência de amplos setores do movimento de massas, como mostram a luta de liberação nacional do povo palestino, o levante das massas na Argélia e as massivas mobilizações operárias e camponesas que se sucedem na América Latina através de vários países, desde a Argentina passando pela Bolívia, Paraguai até a Colômbia.

De outra parte, o movimento antiglobalização, que vem se estendendo desde Seattle pelos países centrais e que teve como um marco a massiva mobilização de Gênova, demonstra o descontentamento de setores da juventude e dos trabalhadores no interior dos países imperialistas.

Todos esses elementos configuram uma situação internacional instável, qualitativamente distinta do período de relativa estabilidade que gozou os Estados Unidos durante a década passada. A própria comoção causada pelo atentado foi uma demonstração contundente de que essa década ficou para trás. Nesse marco, a tentativa de restabelecer o poder imperial norte-americano mediante políticas qualitativamente reacionárias, internamente, e de agressão imperialista, deve avançar sobre um campo minado de obstáculos.

8. Diante dessa perspectiva, o interesse elementar dos trabalhadores e das massas oprimidas de todo o mundo é deter os preparativos bélicos do imperialismo norte-americano e seus aliados. O caminho para isso não é o método do terrorismo individual que, ao contrário, contribui para separar as massas dos países semicoloniais de seus aliados, os jovens e os trabalhadores dos países imperialistas. O único caminho para derrotar o sistema capitalista e imperialista é a mobilização revolucionária das massas do mundo contra o inimigo comum, na perspectiva da revolução socialista mundial.

Isso é o que ficou demonstrado com o grande exemplo histórico que foi o Vietnã. A resistência heróica das massas vietnamitas junto com a massiva mobilização contra a guerra nos Estados Unidos e na Europa paralisaram a poderosa máquina bélica ianque e impôs aos Estados Unidos sua primeira derrota militar. Trata-se de unir o proletariado e os oprimidos do mundo inteiro numa luta comum para libertar-se deste sistema de exploração e opressão.

Por isso, o primeiro passo exige condenar incondicionalmente toda intromissão ou ataque imperialista contra qualquer nação oprimida, seja qual for o pretexto. Lutamos pelo triunfo da justa guerra de liberação nacional do povo palestino e pela derrota do agressor sionista e exigimos a retirada imediata das tropas imperialistas de todo o Oriente Médio. Denunciamos toda campanha xenófoba ou anti-mulçumana e tentativas de repressão e ataque às liberdades democráticas no interior dos países imperialistas. Lutamos para impulsionar junto com os jovens anticapitalistas dos países centrais um grande movimento de massas internacional contra qualquer intervenção imperialista.


14 de setembro de 2001

 

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