A Intifada na
encruzilhada
Nas últimas semanas de março a situação no Oriente Médio se deteriorou ainda mais. O novo governo israelense de coalizão do Likud e do Partido Trabalhista, encabeçado por Ariel Sharon, tem dado marcha a uma guerra de desgaste, que combina o cerco aos territórios palestinos e o conseqüente aperto econômico, com um cronograma de represálias e ataques militares, atentando sobretudo contra posições da Autoridade Nacional Palestina e seus comandos de elite que são responsabilizados pela violência dos últimos meses. Com esta escalada militar o governo israelense busca deter as mobilizações e os ataques perpetrados principalmente contra os assentamentos de colonos e esgotar as reservas do levante palestino para impor uma solução à medida do estado sionista. Esta política conta, por hora, com a boa vontade do governo norte-americano que em repetidas oportunidades lançou duras advertências a Yasser Arafat por não “cooperar” em reduzir a violência nos territórios palestinos. O presidente George W. Bush recebeu Sharon na Casa Branca e concordou com ele em que não há condições para o diálogo e que somente se poderá “retomar” algum tipo de negociação se as massas palestinas se retiram definitivamente das ruas. Ademais, a representação norte-americana vetou nas Nações Unidas o pedido de Arafat, apoiado pelos governos árabes, de enviar uma força internacional para “proteger” os palestinos dos excessos israelenses.
A administração republicana está em processo de redesenhar a política exterior norte-americana e existem importantes diferenças, principalmente entre o Secretário de Defesa Donald Rumsfeld, partidário de uma linha mais dura, e o Secretário de Estado Colin Powell, que buscaria manter o statu quo. Neste marco, o Oriente Médio continuará sendo uma zona prioritária, dado que está em jogo o “interesse nacional” norte-americano de manter seu poderio em função de garantir o acesso às rotas de petróleo[1]. Entretanto, diferente da política do ex-presidente Clinton que buscou impor pela via das negociações uma “paz” favorável ao estado de Israel, que combinava pressão e concessões a Yasser Arafat, Bush é partidário de deixar que as “partes” solucionem seus conflitos, isto é, dar via livre às iniciativas israelenses para lidar com o levante palestino, enquanto tenta que os principais aliados norte-americanos no mundo árabe – Egito, Jordânia e Arábia Saudita – sejam os encarregados de “convencer” Arafat a recompor a cooperação na segurança com as tropas sionistas e pôr fim à Intifada.
Este novo posicionamento norte-americano deixou, por hora, os reacionários regimes árabes com pouca margem de manobra, saudosos da atuação imperialista nos anos do processo de paz. O presidente egípcio Hosni Mubarak declarou numa entrevista que “somente a implicação direta norte-americana poderá convencer Israel a conseguir um compromisso” e que desejaria que os Estados Unidos “atuassem como sempre, como um ‘honesto negociador’” (Newsweek, 30-3).
A Intifada conta com uma profunda simpatia entre as massas dos países árabes. Ainda que as manifestações que se deram no começo do levante palestino não se tenham repetido, foram um sintoma da potencialidade da luta contra o imperialismo e o estado sionista. Esta ira poderia dirigir-se contra os próprios governos – especialmente Egito, Jordânia, Arábia Saudita, além de Kuwait – que seguem com sua política de alinhamento com os Estados Unidos e de boas relações com Israel, enquanto aumenta o sofrimento palestino e da população iraquiana, assediada pelos dez anos de bloqueio econômico e os bombardeios imperialistas. O desgaste da posição norte-americana no Oriente Médio, a pressão interna e o ressurgir de figuras como Sadam Hussein tem alentado uma leve mudança de política no mundo árabe, refletida nos “gestos” diplomáticos e promessas de ajuda à Intifada palestina que, todavia, ainda não se concretizaram.
A última reunião da cúpula árabe, em Amã, no final de março, repudiou mais uma vez a violência israelense, comprometeu novamente uma ajuda econômica ao povo palestino e acompanhou a reclamação da Autoridade Palestina de retomar as negociações no ponto em que haviam chegado com o governo de Barak, e emitiu uma declaração exigindo o fim das sanções econômicas ao Iraque. Porém, deixou em evidência a divisão dos governos árabes entre uma ala “moderada”, composta pelos príncipes aliados norte-americanos – Egito, Jordânia e Arábia Saudita –, e uma ala “dura” encabeçada pelo Iraque, à qual se somou a Síria e o Líbano, que propôs a ruptura com Israel e uma assistência econômica e militar concreta para a Intifada palestina. A reunião resolveu não iniciar novas relações comerciais com Israel, ainda que não questione as já existentes, sobretudo do Egito e Jordânia. Isto permite aos principais países árabes preservar seus interesses materiais derivados de suas boas relações com o estado de Israel e Estados Unidos.
O fracasso da política de “estabilização” perseguida durante sete anos pela administração Clinton, precedida pelo triunfo norte-americano na guerra do Golfo, em 1991, foi deteriorando o posicionamento dos Estados Unidos e desgastando as alianças na região. A política norte-americana no Oriente Médio também é questionada por potências imperialistas da União Européia e pela Rússia, que criticam as ações unilaterais dos Estados Unidos. Estas diferenças se explicitaram com o último bombardeio norte-americano ao Iraque em meados de fevereiro, que contou com o apoio somente da Grã Bretanha. Mais recentemente, a Noruega emitiu um comunicado reconhecendo o direito palestino de “atirar pedras e enfrentar com armas” a ocupação israelense, chegando a sugerir que os colonos seriam um alvo legítimo.
Os acontecimentos que estão se desenvolvendo indicam que nos próximos meses as tensões irão num crescendo. As conseqüências regionais desta escalada militar são imprevisíveis e ao se aprofundar não se pode descartar que se encaminhe a uma dinâmica que envolveria aos outros países da região. Apesar da linha dura do governo de Sharon e das declarações a favor dos palestinos que se viram obrigados a emitir os governos árabes, tenta-se evitar esse cenário.
A Intifada palestina está se aproximando de um momento crítico. Os próximos passos dirão se Ariel Sharon, o responsável pelos piores massacres contra as massas palestinas, ajudado pelas “pombas” trabalhistas será capaz de descarregar um duro golpe contra a Intifada que lhe permita impor um saída reacionária favorável ao estado de Israel ou, se pelo contrário, o levante palestino conseguirá superar o impasse em que se encontra e erigirá definitivamente como a vanguarda das massas do mundo árabe e muçulmano em sua luta para terminar com a opressão imperialista e abrir o caminho à revolução operária no Oriente Médio.
Os acordos de Oslo: uma estratégia falida de “pax” imperialista
O triunfo dos Estados Unidos na guerra do Golfo, em 1991, à frente de uma aliança que incluía o conjunto das burguesias árabes, as demais potências imperialistas e até a Rússia, abriu o caminho aos acordos de Oslo. A direção palestina, que se alinhara com Sadam Hussein, havia ficado completamente isolada em Tunis, perdendo o apoio financeiro que recebia, por exemplo, do regime da Arábia Saudita. Na ausência de Arafat e da OLP, vinha se desenvolvendo nos territórios ocupados desde 1987 a primeira Intifada, o levante semi-espontâneo das massas palestinas contra a ocupação israelense, com métodos que foram desde o boicote à greve, até o mais popularizado enfrentamento de jovens com pedras e bombas molotov contra as tropas do exército sionista. Esta situação permitiu aos Estados Unidos também exercer pressão sobre o governo israelense para que aceitasse a negociação.
Com a assinatura da Declaração de Princípios, em 1993, entre Yasser Arafat e o então primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin, se abriu um processo de negociações destinado a estabilizar a região e torná-la mais segura para os interesses norte-americanos. O chamado “processo de paz” entre Israel e os palestinos era o pontapé para “normalizar” as relações entre o estado sionista e o mundo árabe. Como resultado destes acordos, em 1994 a Jordânia firmou um tratado de paz com Israel, o segundo país árabe a fazê-lo depois do Egito que havia firmado a paz com Israel nas negociações de Camp David em 1978.
Os acordos de Oslo constituíam um esquema de negociação que buscava separar gradualmente o estado de Israel de uma futura entidade autônoma palestina, em base à devolução de certas porcentagens de territórios ocupados por Israel após a Guerra dos Seis Dias, em 1967[2]. Os aspectos da “solução final”, como a definição da soberania sobre Jerusalém, que Israel reclama como “sua capital única e indivisível”, o direito ao retorno dos refugiados palestinos e a separação em dois estados incluindo a anexação ao Estado de Israel de vários dos assentamentos de colonos instalados nos territórios palestinos, ficavam para as últimas instâncias do processo[3]. Este plano foi aceito por Yasser Arafat, traindo as justas aspirações de seu povo à autodeterminação nacional. Esta traição de Arafat vinha sendo preparada desde muito antes. Em 1988 a OLP havia abandonado a luta pelo estabelecimento de um estado palestino em todo seu território histórico, e aceitara um “mini-estado” em algum ponto dos territórios ocupados por Israel em 1967. A OLP aceitou a solução de “dois estados”, reconhecendo o direito à existência do estado de Israel e legitimando a colonização israelense de 1948. Isto deixava sem sustento a exigência do direito ao retorno dos refugiados palestinos, mais de quatro milhões que atualmente sobrevivem em acampamentos dentro dos mesmos territórios palestinos, principalmente em Gaza, e nos países vizinhos, sobretudo na Jordânia e no Líbano.
O acordo também implicava uma cooperação em temas de segurança, entre a polícia palestina e os serviços militares israelenses. Esta operação supervisionada pela CIA estava destinada a que a Autoridade Palestina se convertesse em polícia interna, se comprometendo a “combater o terrorismo”, ou seja, qualquer expressão de resistência aos acordos de “paz” para garantir a “segurança” do estado de Israel.
A criação, em 1994, da Autoridade Nacional Palestina, que regia em algumas zonas de Gaza e na Faixa Ocidental, e uma polícia armada com armamento leve de cerca de 40.000 homens despertou enormes ilusões no movimento de massas de que poderia, afinal, realizar suas aspirações de ter seu próprio estado após décadas de luta.
Entretanto, os sete anos de processo de paz mostraram que as concessões territoriais e de autonomia eram mínimas e tinham um preço muito alto. O estabelecimento das zonas autônomas palestinas não foi um processo “pacífico”. Israel devolveu partes menores dos territórios[4], enquanto continuou com a proliferação dos assentamentos de colonos. Em troca de renunciar a qualquer outra reclamação futura, as massas palestinas teriam um “mini-estado” em zonas autônomas separadas umas das outras, sem unidade territorial e dependente economicamente de Israel, que se reservava, além de tudo, o controle da água e da eletricidade e mantinha os postos militares para proteger os assentamentos.
A chave dos acordos de Oslo era manter uma profunda assimetria entre o estado de Israel e o imperialismo norte-americano, por um lado, e a Autoridade Palestina, por outro, o que implicava que cada instância de negociação se convertesse numa pressão extrema sobre Yasser Arafat, que fazia concessões cada vez mais inaceitáveis para o povo palestino.
A dinâmica dos acordos de Oslo, que pretendiam impor uma solução na medida do estado sionista, mas sem garantir uma dura derrota das massas palestinas, levou a uma aguda polarização à esquerda entre as massas palestinas e a direita de Israel.
A sociedade israelense se dividiu. O setor pacifista, que ia desde o Partido Trabalhista até a “esquerda” sionista, como o Meretz e a organização Paz Agora, era partidário dos acordos de paz como a melhor forma de garantir a segurança do estado de Israel e abrir suas relações com o mundo árabe. O outro setor, liderado pelo Likud e pelos partidos religiosos e a extrema direita sionista, entre eles os colonos, considerava que o governo de Rabin havia feito concessões inadmissíveis que além do mais não conteriam as exigências das massas palestinas. Viam com espanto a formação da Autoridade Palestina e sobretudo de sua polícia armada. Sua estratégia poderia ser resumida numa antiga frase de Ariel Sharon, que havia afirmado que “os palestinos já têm um estado, a Jordânia”.
Esta fratura produziu uma sucessão de crises políticas que começou com o assassinato de Rabin, pelas mãos de um ativista de extrema direita, e seguiu com o fim antecipado dos governos do direitista Netanyahu e mais recentemente do trabalhista Ehud Barak. A conclusão lógica deste caminho foi a ascensão de Ariel Sharon e a conformação do governo de unidade nacional.
Do lado palestino, o grande desprestígio de Arafat, por suas repetidas capitulações, levou a que diante do descontentamento das massas até setores do Al Fatah – como as milícias juvenis do Tanzim, dirigidas por Manwan Bargouti – liderem ações da Intifada, buscando eclipsar as organizações islâmicas como Hamas e Jihad. A desilusão com o processo de paz, que vem crescendo há anos, transformou-se em ação de massas. Podemos dizer sem temor de nos equivocar que a segunda Intifada marca o epílogo de uma década aberta com o triunfo imperialista na guerra do Golfo e o prólogo de uma nova situação de alta instabilidade.
Israel: de Oslo ao governo de Sharon
O fracasso do governo trabalhista de Ehud Barak em fazer retroceder a Intifada palestina operou uma mudança na sociedade israelense, que acompanhou a superestrutura política em seu giro à direita. O triunfo de Ariel Sharon, impensável há apenas uns meses, não foi uma surpresa para ninguém, como tampouco a formação de um governo de unidade nacional com o Partido Trabalhista, golpeado pela catástrofe eleitoral[5].
Diferente do governo de Barak, que usava as represálias militares e os bloqueios como uma expressão in extremis sobre Arafat para que aceite os termos da negociação impostos por Israel e Estados Unidos, o novo governo de Sharon e Peres, partindo do fracasso desta política para reverter a relação de forças, tem colocado em marcha uma estratégia de guerra de desgaste. Desde o começo tem procurado aprofundar as condições para obrigar a rendição palestina. O estado sionista usa o bloqueio e o fechamento das zonas palestinas como uma arma de guerra. Centenas de milhares de habitantes de Gaza e da Faixa Ocidental ficam isolados, as cidades são cercadas por trincheiras e custodiadas por postos de controle do exército sionista. Durante o atual levante, Israel faz uso e abuso deste recurso, inclusive fechando o aeroporto internacional de Gaza. Calcula-se que aproximadamente 120.000 trabalhadores palestinos não têm podido acorrer aos seus empregos em Israel durante os últimos meses, do mesmo modo que se tem cortado o acesso à água e à eletricidade, lançando ainda mais as massas palestinas na miséria. Isto se combina com ataques militares. As forças israelenses de defesa têm assassinado e encarcerado a membros da guarda de Arafat e do movimento político Fatah dentro das zonas autônomas. Depois dos primeiros ataques das tropas sionistas em Gaza e Ramallah, Avigdor Lieberman, ministro de Infra-estrutura e “superfalcão” do gabinete de Sharon, advertiu que “como tem dito o primeiro-ministro, esta não é uma reação, não é só uma operação. É a abertura de uma fase de uma política de conjunto, cujo objetivo é por fim ao terror. A diferença deve ser que a hierarquia política dê pleno apoio a suas forças de segurança, plena liberdade para operar”[6].
O governo norte-americano apoiou a decisão de Sharon de não negociar até que “cesse a violência”, e escutou com atenção sua definição de que Arafat não é o líder palestino com quem negociar a “paz”, senão um “terrorista” alinhado com Sadam Hussein. Sharom também conseguiu um forte respaldo do poderoso lobby judeu norte-americano.
No imediato, a ascensão de Sharon e a conformação do governo de unidade nacional com o Partido Trabalhista parecem ter fortalecido Israel. A unidade nacional apenas deixou fora setores da extrema direita como os colonos que têm começado a questionar Sharon e exigem medidas militares mais duras, inclusive defendendo a reconquista de setores árabes como na cidade de Hebron, e setores limitados da esquerda israelense, que sintomaticamente têm participado em mobilizações conjuntas com palestinos. Ao se aprofundar a dinâmica inicial do governo de Sharon, esta polarização poderia se desenvolver. A escalada militar poderia derivar num número maior de vitimas. Os acontecimentos dirão se a população israelense estará disposta a suportar mais mortes de soldados e civis, tendo em conta que a retirada desordenada das tropas sionistas do sul do Líbano se deveu à grande impopularidade que causava o crescente número de baixas entre os soldados israelenses pelos ataques das milícias do Hezbollah. Mais além da enorme superioridade militar, Israel continua sendo vulnerável às emboscadas e atentados palestinos. Por isso, Sharon não tem a política de queimar todas as pontes com a Autoridade Palestina, buscando sobretudo recompor a colaboração em temas de segurança. Neste sentido, ainda que tenha suspendido as negociações políticas de um possível acordo de “paz”, membros de primeiro nível do governo israelense como o ministro de Relações Exteriores Shimon Peres e inclusive um amplo espectro de parlamentares – do filho de Sharon ao Meretz – têm mantido reuniões com a Autoridade Nacional Palestina para retomar a cooperação para manter a segurança e controlar o “terrorismo”.
O governo israelense admite que a dinâmica na qual embarcou poderia levá-lo a uma guerra, mesmo deixando claro que pela disposição de forças esta não será uma guerra em sentido clássico, aludindo a que se pode transformar num banho de sangue para as massas palestinas. O fato é que, ao se desenvolver, não seria uma guerra entre exércitos, mas uma guerra de um exército de ocupação para dizimar o levante palestino e manter as condições de opressão[7]. Isto pode levar ao envolvimento, em diversas medidas, de outros países da região e a uma desaprovação internacional se Israel continua com sua violenta repressão aos palestinos. Estas são algumas das contradições que marcam a “opção militar” israelense.
Potencialidades e limites do levante palestino
A Intifada de Al Aqsa tem causas profundas na luta pela liberação nacional com respeito ao enclave colonial e racista israelense. Isso é o que explica as tendências que se expressaram sobretudo nas primeiras semanas de seu desenvolvimento. Sem dúvida o fenômeno mais importante foi a intervenção dos palestinos que vivem em Israel, como parte da mesma luta de liberação que desenvolve o povo palestino nos chamados territórios ocupados[8]. A solidariedade ativa das massas árabes e muçulmanas tem mostrado a potencialidade da rebelião nacional palestina e sua relação com a luta das massas da região.
Esses dois elementos marcam uma diferença qualitativa com a primeira Intifada[9]. Nesse momento, os palestinos dentro do território israelense apenas participaram no começo realizando uma greve geral, mas passado esse primeiro momento sua colaboração se reduziu a contribuir com dinheiro para o levante, porém sem tomar parte nos enfrentamentos. Hoje esse setor que compreende 20% da população israelense tem levado o levante palestino ao coração do estado sionista.
Após as primeiras semanas de mobilizações massivas, o desenvolvimento do levante foi barrado pelas distintas frações dirigentes. As ações se tornaram em enfrentamentos armados de pequenos grupos, principalmente contra os assentamentos de colonos, organizados pela milícia Tanzim. Se bem que a posse de armas do lado palestino seja uma novidade com respeito à primeira Intifada, as distintas organizações têm seu monopólio, impedindo o armamento das massas, deixando que milhares de jovens enfrentem com pedras as tropas sionistas. Este monopólio do armamento resultou numa certa “militarização” do conflito em torno às ações individuais controladas pelo Hamas e milícias da Fatah. É que, tanto a OLP como os grupos islâmicos de oposição, como o Hamas e a Jihad Islâmica, buscam manter o levante sob controle, evitando a organização independente e democrática das massas palestinas. Isso não nega de maneira alguma que nas mais amplas massas cresce o sentimento de apoio ao levante[10] e sua disposição à luta.
A direção do levante até agora compreende um amplo leque de organizações nucleadas nas “Forças Nacionais Islâmicas”. Esta coalizão está formada pelas distintas frações da OLP e a oposição islâmica e laica à Al Fatah, como o Hamas, a Jihad Islâmica, a Frente Popular para a Liberação da Palestina, muitos deles são duros críticos de Arafat e de sua política de negociação com o estado de Israel. Porém, esta direção conjunta tem permitido, até o momento, sustentar a Autoridade Palestina, desprestigiada perante o movimento de massas por suas capitulações e pelo caráter corrupto e antidemocrático da elite governante, enquanto que a grande maioria dos palestinos vive no limite da subsistência.
A gravidade dos acontecimentos e a debilidade na qual se encontra Arafat, não somente internamente, mas também diante do governo israelense que suspendeu as negociações, obrigou nas últimas semanas a fazer um chamado dramático a “massificar” novamente os protestos. Como tem feito com a primeira Intifada, Arafat buscará usar a justa luta de seu povo para melhorar sua posição tanto diante das potências imperialistas como dos reacionários governos árabes, a quem busca pressionar com o sofrimento palestino. Porém, esta política encontra sérias dificuldades. O surgimento de líderes “populares” da Fatah, não ligados diretamente à Autoridade Palestina, como Marwam Bargouti na Faixa Ocidental, a maior presença de outras frações da OLP e milícias como Tamzin, que não estariam sob controle direto de Arafat, e as ações de grupos islâmicos, sobretudo o Hamas, mostram uma séria deterioração de Yasser Arafat como direção histórica do movimento palestino, de conseqüências importantes principalmente diante de uma radicalização maior do conflito.
Todavia, a direção de Arafat não foi superada. Apesar da enorme combatividade e heroísmo segunda Intifada está numa encruzilhada e diante da imperiosa necessidade de expandir-se ao mundo árabe. Distinto, por exemplo, da relação de forças que impôs o proletariado negro na África do Sul, que ameaçou com uma revolução operária no final dos anos 80, e que somente pôde ser desviada com o fim do apartheid e a traição de Mandela, o atual levante das massas palestinas, por si mesmo, não tem esta força, a menos que se transforme em vanguarda do conjunto das massas do Oriente Médio, unindo-se aos principais proletariados da região. Longe disso, a política de Arafat é manter o levante em seu estado atual e buscar o respaldo dos reacionários regimes árabes, que historicamente tem deixado à própria sorte o povo palestino, assim como das Nações Unidas e potências européias. A situação limite na qual se encontra a Intifada e a dinâmica dos acontecimentos podem levar a uma radicalização do conflito, que comece a indicar as vias de superação dos limites impostos pelas suas direções.
A saída reacionária dos “dois estados”
A situação atual está mostrando o verdadeiro conteúdo reacionário da saída de “dois povos, dois estados”, contemplada na resolução inicial das Nações Unidas pela qual se fundou o estado de Israel em 1948, mas que nunca deu lugar ao surgimento de um estado palestino. Ao contrário, em mais de cinqüenta anos, o povo palestino tem visto seus direitos nacionais pisoteados. A partilha do território histórico palestino levou à fundação de um enclave racista, agente do imperialismo na região, que estendeu suas “fronteiras” em sucessivas guerras e mantém uma situação colonial contra as massas palestinas.
Para o governo de Sharon e Peres, a separação e as fronteiras definitivas do estado de Israel implica reduzir os palestinos a guetos e acampamentos de refugiados.
A esquerda sionista e os movimentos pacifistas israelenses, que defendem o estado de Israel sem questionar suas origens coloniais e sua aliança com o imperialismo contra as massas árabes, apresentam os “dois estados” como a saída mais “realista, justa e pacífica”. Diferente da direita israelense, consideram que deveria dar fim “à ocupação”, isto é, que as fronteiras do estado hebreu não deveriam incluir porções dos territórios ocupados em 1967. Isso se concretizaria com o desmantelamento dos assentamentos de colonos, sobretudo os mais irritativos como o de Hebron.
Esses setores defenderam o “processo de paz”, e cinicamente várias vezes têm responsabilizado a Arafat por não aceitar os oferecimentos “generosos” feitos por Israel e o imperialismo. Diante do fracasso dos acordos de Oslo, muitos estão defendendo que se deveria fazer cumprir as resoluções das Nações Unidas, que obrigaria Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967.
A separação em “dois estados” implica o reconhecimento do estado de Israel, um estado “judeu só para judeus”, um enclave racista que para se manter oprime e persegue as massas palestinas. Por isso, inclusive até as propostas mais “generosas” que partam deste pressuposto, levam à imposição de um regime muito similar ao apartheid sul-africano, isto é, ao estabelecimento de “bantustões” ou pequenas porções de território “autônomo” onde os palestinos estariam obrigados a viver, dirigidos pela autoridade palestina mas onde o verdadeiro domínio seria do estado colonial israelense. Como coloca o escritor Edward Said, este método “vem do colonialismo do século 19. Os franceses o fizeram na Argélia (...) Na África do Sul, a idéia era colocar os negros em reservas ou ‘homelands’ onde podiam ter alguns atributos de soberania mas nenhuma soberania real. Não podiam controlar a terra. A água não estava sob seu controle. As entradas e saídas estavam controladas pelos brancos. Este é exatamente o modelo aqui. As áreas palestinas que são pequenas e estão divididas, são os centros da população palestina, porém são os equivalentes às ‘homelands’ sul-africanos, onde alguém como Arafat pode dar a impressão de que é o líder mas de fato as cordas atrás da cena são manejadas pelo ocupante colonial”[11].
Esta estratégia tem levado a uma profunda crise a esquerda israelense que não tem podido impedir o ascenso de Sharon e sua unidade com o trabalhismo.
A negação do direito ao retorno dos refugiados palestinos é a mostra mais crua desta realidade. O estado de Israel não reconhece nenhuma responsabilidade na gênesis do problema dos refugiados palestinos, porque se o fizesse isto seria implicitamente admitir sua conquista violenta dos territórios palestinos e que o estabelecimento e a permanência do estado de Israel se baseia no fato de pertencer a uma raça ou religião. Segundo o dogma sionista, há um “eterno direito ao retorno” de qualquer judeu nascido em qualquer parte do mundo ao estado de Israel, enquanto nega o direito ao retorno dos habitantes históricos palestinos.
Quando se trata do “problema dos refugiados” palestinos, a diferença entre a esquerda e a direita do movimento sionista é apenas de nuances. Enquanto os partidos trabalhista e o Likud nunca aceitarão o direito ao retorno, outros setores como o movimento Paz Agora e de intelectuais liberais pacifistas propõem saídas que contemplam “cotas” de ingresso ou compensações econômicas, como complemento da política de separação baseada na estratégia de “dois povos, dois estados”. Segundo um acadêmico israelense, “em relação a este tema (os refugiados), não há diferenças entre a ‘esquerda’ e a ‘direita’. É suficiente mencionar o problema dos refugiados, para que escritores como Amos Oz (uma reconhecida referência de esquerda) reajam como Ariel Sharon”[12].
A aceitação de Arafat dos termos de Oslo e da legitimidade do estado sionista também carrega a negociação do “problema dos refugiados” através de compensações e de alocação em outros países árabes. Entretanto, a segunda Intifada tem colocado, como nunca antes, em primeiro plano o direito ao retorno dos refugiados. Como diz um jornalista, “em vários lugares o que está começando a ocorrer nos territórios tem sido chamado de ‘intifada do retorno’, e os refugiados estão desempenhando uma vez mais o papel central que desempenharam no passado no movimento nacional palestino”[13]. Esta aguda situação tem se colocado como limite às capitulações de Arafat e à assinatura definitiva de um acordo que certifique a renúncia ao direito ao retorno.
Uma perspectiva revolucionária para o Oriente Médio
A segunda Intifada é a última expressão da luta de liberação nacional que as massas palestinas vêm desenvolvendo há anos. Desde a primeira década do século XX, a população árabe que habitava o território da Palestina tem sido submetida à lenta mas firme colonização da terra pelo movimento sionista.
Em 1936 explodiu uma grande rebelião anticolonial contra a Grã Bretanha, que tinha nesse momento o mandato sobre os territórios palestinos[14]. O levante começou com uma greve geral que durou seis meses e se estendeu até 1939, quando foi derrotado por grande parte do exército britânico e as milícias irregulares sionistas. A dura derrota deste primeiro levante árabe facilitou a colonização. A divisão do território palestino pelas Nações Unidas derivou na fundação do estado de Israel, um enclave racista que tem em suas origens a limpeza étnica da população árabe em 1948 e se sustenta como um estado colonial e terrorista, ponta de lança do imperialismo no Oriente Médio, baseado no fato de pertencer a uma raça, o que leva não apenas à opressão do povo palestino nos territórios ocupados como também à discriminação da minoria árabe que vive em Israel.
O sionismo usou cinicamente o sofrimento dos judeus, as perseguições e o holocausto para justificar sua política colonialista. Durante décadas sustentou o mito de que a fundação do estado de Israel foi produto de uma “guerra de liberação nacional” e que as ações do estado de Israel eram “defensivas” frente à hostilidade do mundo árabe. Este mito está caindo, diante da verdade histórica que se revela diariamente nas ruas e nos acampamentos de refugiados palestinos.
A direção da OLP expressou a radicalização do movimento nacional palestino diante da débâcle do nacionalismo árabe, nos fins dos anos 60 e princípios dos 70. Seu programa propunha o estabelecimento de um estado palestino laico em todo seu território histórico, baseado na destruição do estado de Israel. Porém, nos anos 80, Arafat e a OLP prepararam a traição às massas palestinas, fazendo-a explicitamente com a assinatura dos acordos de Oslo.
O povo palestino não pode coexistir pacificamente com o estado de Israel porque não poderá haver “paz justa” enquanto existir a opressão nacional. O levante palestino contra a opressão colonial, a exigência do direito ao retorno dos refugiados e a ameaça cada vez mais palpável de uma ofensiva militar expõem como nunca antes que a única saída “justa e realista”, à condição do direito à autodeterminação nacional palestina, é a destruição do estado racista de Israel e a expulsão do imperialismo. Nós, revolucionários, defendemos e apoiamos as demandas democráticas das massas palestinas como motores da mobilização revolucionária. Nesse sentido, defendemos o direito a um estado palestino laico e não racista em todo o território histórico palestino, em base à destruição do estado sionista, onde árabes e judeus possam conviver em paz.
A política de Arafat, de uma “rendição negociada”, buscando o respaldo dos reacionários regimes árabes e das Nações Unidas, levará o povo palestino à derrota. Enquanto as direções islâmicas, com suas ações militares individuais, a serviço de estabelecer um estado confessional, impedem que se desenvolva um movimento de massas que se dote de suas próprias organizações independentes, capazes de liberar o potencial antiimperialista e revolucionário da luta nacional palestina, transformando-a numa alavanca da revolução no Oriente Médio.
Estas direções burguesas e teocráticas são incapazes de dirigir e levar até o final a luta pela liberação nacional. As demandas democráticas de autodeterminação nacional do povo palestino são insolúveis nos marcos do capitalismo imperialista, que se baseia na opressão e semicolonização da maioria dos povos do mundo. Por isso, defendemos que a resolução das aspirações nacionais palestinas está profundamente ligada ao estabelecimento de um governo operário e camponês e uma Palestina Operária e Socialista.
O imperialismo mantém uma aliança estratégica com o estado sionista que atua como polícia de seus interesses contra as massas da região, a quem os governos árabes que oprimem e exploram seus próprios povos têm se subordinado. Diante desses inimigos, a única possibilidade de triunfo das massas palestinas é a unidade com as massas árabes e muçulmanas, que tem demonstrado com suas mobilizações ser um poderoso aliado potencial para derrotar o imperialismo e seus agentes e que estão ligadas por múltiplos laços, históricos e concretos, por exemplo, pela vida dos milhões de refugiados que vivem nos países árabes vizinhos, à luta nacional palestina. A intervenção independente dos proletariados mais concentrados do Oriente Médio à frente das massas oprimidas da região é o que evitará que a Intifada palestina fique limitada a um levante heróico mas impotente diante do exército israelense, o quarto exército do mundo, e do imperialismo. A unidade revolucionária com a classe operária e as massas da região é a única forma de levar até o final a luta pela liberação nacional do povo palestino unindo os interesses da classe operária dos países do Oriente Médio contra seus governos locais e o imperialismo, abrindo a perspectiva da revolução operária e o caminho à luta por uma Federação Socialista do Oriente Médio.
[1] Assessores e analistas de política exterior recomendam à nova administração uma firme decisão de intervir no Oriente Médio. Uma prestigiosa revista imperialista de política exterior propõe que “a equipe de Bush deve entender que não pode simplesmente retirar-se desta situação vulcânica. As apostas para Washington são altas (...) Mais que em qualquer outro momento, nas últimas três décadas as tensões na região têm agora o potencial de escalar. A situação poderia mudar rapidamente de um conflito nacional, de um combate isolado a uma conflagração regional. Os máximos funcionários da segurança nacional norte-americana têm nomeado o Oriente Médio como o ponto mais perigoso no mundo (...) A região segue sendo de importância crítica para os Estados Unidos, devido a sua dependência do petróleo do Golfo Pérsico, seu desejo de conter um desafiante Sadam Hussein e sua relação especial com Israel.” Foreign Affairs, março 2001.
[2] Após meses de choques e escaladas militares, primeiro com a Síria, logo somado ao Egito, o estado de Israel lançou em 5 de junho de 1967 um ataque preventivo contra ambos países, destruindo suas forças aéreas. A Jordânia se uniu à Síria e ao Egito, pelo que também foi atacada. Os três foram derrotados e Israel capturou a Faixa Ocidental da Jordânia, a Faixa de Gaza e a península do Sinai do Egito e os Montes de Golán da Síria. Esta guerra durou apenas seis dias e transformou, decisivamente, Israel na potência militar dominante na região. Enquanto a derrota desacreditou os regimes árabes, o movimento nacional palestino emergiu com uma nova radicalização depois de 1967.
[3] As conversações de “paz” começaram imediatamente após a vitória norte-americana na guerra do Golfo, em Madri, em 1991. Sob a assinatura em Washington dos acordos em 1993, o chamado “processo de paz” tem passado por outras instâncias de negociações, conhecidas como Cairo I e II e Oslo II, em 1994, que estabeleceram a Autoridade Nacional Palestina e a polícia palestina, o memorando de Wye River em 1998, sob o governo israelense de Netanyahu, e mais recentemente a falida Cúpula de Camp David, em julho de 2000, e as negociações de Taba no fim dos governos de Clinton e Barak. Em cada instância de negociação Israel conseguia progressivamente mais concessões de Yasser Arafat, até que se colocou a resolução do problema dos refugiados, por agora uma capitulação inadmissível para a direção palestina.
[4] Em relação às concessões territoriais, E. Said coloca que “pouca gente se dá conta que, inclusive sob os termos de Oslo, as áreas palestinas que têm autonomia não gozam de soberania (...) Em outras palavras, Israel tomou 78% da Palestina em 1948 e os restantes 22% em 1967. Apenas esses 22% estão em questão agora, e isso exclui Jerusalém Ocidental”, Palestinians under siege, 14-12-2000, London Review of Books. E que “a Faixa Ocidental e de Gaza constituem os 22% do território palestino histórico (...) desses 22%, os israelenses, todavia, controlam 60% da Faixa Ocidental e 40% de Gaza”.
[5] As eleições israelenses se realizaram em 6 de fevereiro passado. A vitória arrasadora do candidato do Likud, Ariel Sharon, não se deveu apenas ao giro à direita da sociedade israelense, mas também à abstenção dos palestinos que vivem em Israel, que votavam (90%) no Partido Trabalhista. Os palestinos dentro de Israel boicotaram ativamente as eleições. Calcula-se que a abstenção chegou a 80%, mostrando a profundidade da fratura, do estado sionista, aberta com a Intifada, na qual participaram ativamente os palestinos que vivem como cidadãos de segunda no estado sionista, sujeitos às “leis de cidadania”, não de nacionalidade, que o estado de Israel reserva para os cidadãos não judeus. Como resultado da repressão das tropas sionistas e dos progroms organizados por israelenses das cidades árabes, 13 palestinos foram assassinados. O candidato trabalhista Barak e alguns dirigentes árabes tentaram, sem frutos, se apresentar como o mal menor frente a Sharon, mas não puderam apagar a conclusão de que os falcões do Likud e as “pombas” trabalhistas são as duas caras da mesma moeda.
[6] The Guardian, 29-3-01.
[7] Alguns analistas começam a comparar esta situação com a guerra que a França criou na Argélia para manter seu poder colonial.
[8] A minoria palestina que vive no estado de Israel alcança 20% da população. Sua situação é de marginalização e discriminação racial. Pela lei, 92% dos territórios israelenses está destinado unicamente a cidadãos de origem judia. A política dos sucessivos governos tem sido a de “judeizar” as cidades com população majoritária árabe. Suas condições econômicas são muito piores, grande parte deste setor é mão-de-obra barata para empresas israelenses. Mesmo que uma pequena minoria tenha se integrado parcialmente – inclusive com cargos parlamentares – isto não indica uma mudança em sua situação e de fato os partidos árabes, que tradicionalmente apóiam o Partido Trabalhista, vêm tendo que fazer eco da ira dos palestinos. Um analista descreve muito bem a situação dos árabes dentro de Israel: “os palestinos que ficaram sujeitos ao controle israelense depois de 1948 experimentaram o que se conheceu como a ‘israelização’ dos árabes palestinos. Com o tempo, se conheceram como os árabes israelenses, que como outras minorias étnicas marginalizadas e ameaçadas desenvolveram um forte sentimento de identidade nacional num esforço por restaurar sua herança, linguagem e cultura palestina contra a dominação política e cultural de Israel (...) Para assegurar o domínio dos judeus dentro do estado, o parlamento israelense adotou várias leis – incluída a Lei do Retorno, para os judeus em 1951 e a Lei da Cidadania –, pelas quais a minoria árabe estaria contida dentro dos limites das regras de cidadania dispostas para residentes não judeus”. Inter-Arab politics and the Mainstream of the Palestinian Movement: Changes in Relations and Strategy and their implications for the Peace Process. Husam Mohamad, Eastern Mediterranean University, Chipre, 1999.
[9] A primeira Intifada palestina começou formalmente em 8 de dezembro de 1987, quando deliberadamente veículos israelenses atropelaram vários palestinos. O funeral, no dia seguinte, se transformou numa mobilização de massas. As tropas israelenses reprimiram e assassinaram manifestantes palestinos. Isto deu início a uma rebelião semi-espontânea de massas que se estendeu com desigualdades praticamente até 1993. Diariamente, em cada esquina dos territórios ocupados, milhares de jovens enfrentavam com pedras as tropas de ocupação sionistas. Durante estes acontecimentos a direção da OLP se encontrava no exílio, em Tunis.
[10] Por exemplo, pesquisas realizadas em novembro e dezembro do ano passado, refletiam que 74% dos palestinos não reconheceriam a soberania israelense em Jerusalém ocidental, 60% não acredita que haja possibilidades atualmente de coexistência pacífica e que dois terços dos palestinos apóiam as “operações suicidas” contra israelenses. (Citado por Foreign Affairs, março/2001.)
[11] Registro de uma entrevista radiofônica com o escritor Edward Said, reproduzida em Socialist Action, fevereiro/2001.
[12] “The right of return”, Uri Avnery, em The Other Israel, 14-1-01.
[13] The OLP is rising – and the PA is sinking, Danny Rubinstein.
[14] A Palestina esteve sob jugo britânico entre 1922 e 1948, por outorga da Sociedade das Nações (antecessora das Nações Unidas), na partilha do mundo colonial do primeiro pós-guerra. O jugo britânico terminou com o estabelecimento do Estado de Israel em 1948.